Agroecologia continua sendo desafio global
Congresso traz especialistas internacionais para discutir futuro do cultivo de alimentos na perspectiva da preservação da biodiversidade
Pesquisadores, professores, estudantes, agricultores e representantes de movimentos sociais ligados ao campo participaram do 2o. Congresso Internacional de Agroecologia e Desenvolvimento Territorial (CIADT) nos dias 11, 12 e 13 no campus da Universidade Federal Rural de Pernambuco, em Recife.
Na manhã da quinta-feira, 12, o público assistiu a conferência do professor Narciso Barrera (UAQ, México), que expôs algumas de suas ideias, como “bioculturalidade”, “culturaleza” e conceitos como agroecologia histórica. Barrera trouxe a discussão de vários modelos de agroecologias e mostrou sua percepção ao que chama de
agroecologias descalças”.
Discordando frontalmente da postura individual do sociólogo português Boaventura de Sousa Santos, Narciso disse que acha pertinente a conceituação de “pluriverso” disseminada pelo renomado professor da Universidade de Coimbra. Para o pesquisador mexicano, não é possível fazer agroecologia sem que se avance no processo de reforma agrária.
Em seguida ocorreu a mesa-redonda “Sujeitos da Agroecologia”. Maria Emília Pacheco (FASE), considerou urgente reformular o Cadastro Nacional da Agricultura Familiar (CAF), englobando territórios e outras formas de organização social para a produção agrícola dos pequenos agricultores.
Para Maria Emília “o feminismo é constitutivo das agroecologias”. Ela defende uma politização do consumo e abordou ainda a questão da “comida pós-Agro”, produzida à base de proteínas desenvolvidas em laboratórios.
Lia Barbosa (UECE), falou sobre uma “agroecologia emancipatória”. Ela trouxe a discussão dos “territórios ontológicos” numa perspectiva zapatista. Para ela, é preciso desconstruir o conceito capitalista de “desenvolvimento” e substituí-lo pela ideia do “bem viver”.
Santiago Sarandón (UNLP, Argentina) foi enfático ao dizer que os sistemas alimentares estão em crise. “Não se trata de tentar coexistir com o atual modelo industrial de produção de alimentos. É preciso promover uma revolução processual”, afirma o pesquisador. Saradon fala de uma nova ética que garanta sustentabilidade para as futuras gerações. Ele diz que vivemos um período de complexidades sem certezas e defende a observação de “plurivalores”, com foco nas biodiversidades e nos saberes das mulheres.
Eric Jean Scopel, membro do organismo francês de Cooperação Internacional de Pesquisa Agronômica para o Desenvolvimento Sustentável das Regiões Tropicais e Mediterrâneas (CIRAD, na sigla em francês), centrou sua fala sobre a necessidade global em desenvolver transições agroecológicas para o modelo atual.
O evento contou com convidados da Argentina, França, Espanha e do Brasil.