Famosos querendo se tornar Presidente de República não é exatamente uma novidade no cenário mundial. Os estadunidenses passaram por Reagan, seu 40º governante. A Ucrânia dos dias de hoje é governada por um ex-comediante, o também ator Volodymyr Zelensky. É como se, de repente, os “bobos da corte” quiserem virar reis. Aqui no Brasil, o recém-falecido Sílvio Santos, tentou se lançar candidato em 1989. Outro apresentador de TV, Luciano Huck também andou se balançando há pouco tempo. E não nos esqueçamos de Tiririca! Analisando assim, o anúncio de uma pretensa candidatura do famoso cantor de música “sertaneja”, Gusttavo Lima ao Palácio do Planalto, ano que vem, não causa tanto espanto assim.
Acossado pela Polícia Federal como suspeito de lavagem de dinheiro no ano passado, Lima resolveu ampliar seus negócios para além das bets e deve estar perguntando às suas fivelas reluzentes: “porque não a Presidência??”.
Esse tipo de evento tem sido bem dissecado por pesquisadores em vários cantos do mundo. O franco italiano Giuliano Da Empoli, poderia dizer que Gusttavo Lima (cujo nome de batismo é Nivaldo Batista Lima) faz parte de um numeroso exército de Trolls, cujo objetivo subliminar é implodir qualquer limite real entre Esquerda/Direita, na tentativa de engajar potenciais eleitores de imensa parcela de furiosos revoltados (antigamente a gente chamava de analfabeto político) que não se enquadram, necessariamente, na classificação de fascistas.
O fenômeno não é novo e os comunicadores populares (radialistas, âncoras da TV etc) já surfam nessas ondas há muito tempo. Mas, depois da desastrosa experiência perpetrada por Jair Bolsonaro, qualquer zé-ninguém ou qualquer zé-famoso pode se aventurar ao escárnio protocarnavalesco no ambiente da Política Partidária.
Para Lima, disputar as eleições presidenciais é só mais um desafio pessoal para repor a carga de adrenalina. É como se fosse somente outro tipo de reality show. Mas tem um outro lado dessa triste moeda: o lado dos que votam! De fato, uma propositura como esta do sofrente cantor “sertanejo”, não teria cabimento se o nosso eleitorado não fosse tão vulnerável.
De fato, Wilhelm Reich (1897 – 1957), em Escuta Zé Ninguém, comenta: “(…) Deixas que os homens no poder o assumam em teu nome. Mas tu mesmo nada dizes. Conferes aos homens que detêm o poder, quando não o conferes a importantes malintencionados, mais poder ainda para te representarem. E só demasiado tarde reconheces que te enganaram uma vez mais (…)”.
Gusttavo se lança muito mais para balburdiar o cenário político brasileiro do que em busca de qualquer outro intento. O que se discute aqui não é o direito à livre concorrência entre os cidadãos, mas o desprezo desse tipo de gente com as instituições públicas, com a governança coletiva, com o sentido de República, com a gestão do esforço do conjunto da população.
Deixo por fim mais uma reflexão a esse respeito:
Ó respeitáveis enganadores que troçais de mim!
Donde brota a vossa política,
Enquanto o mundo for governado por vós?
Das punhaladas e do assassínio!
Charles de Coster (em Ulenspiegel)