ELEJÓOPINIÃO

A ideologia dos oportunistas

por DALMO OLIVEIRA*

Era 17 de setembro de 2015 quando o farmacêutico e ex-prefeito da terceira cidade mais antiga do Brasil, Luciano Cartaxo, mandou seus assessores de gabinete organizarem uma coletiva de Imprensa num dos hotéis na Praia do Cabo Branco para fazer um anúncio bombástico: “Não podemos perder um minuto explicando problemas que não foram criados por nós, nem pelos petistas da Paraíba”. Foi essa uma das declarações que o então alcaide de João Pessoa utilizou durante aquele evento, ao anunciar que estava saindo do PT para ingressar, acreditem, no PSD. “Vamos respirar outros ares e crescer”, teria dito Cartaxo, segundo a reportagem da conceituada revista Exame.

Afora alguns militantes, mais “radicais” do PT local, ninguém reclamou quando o Dr. Cartaxo fez uma bet ideológica, trocando de campos políticos, mesmo sabendo aqueles que Luciano saiu, literalmente, cuspindo no prato que comeu durante 20 anos de militância, quatro mandatos de vereador, um como deputado estadual e um na condição de vice-governador da Paraíba, pelo Partido dos Trabalhadores.

Era 16 de dezembro de 2021 quando a Opinião Pública local é novamente surpreendida por Cartaxo, que anuncia, subitamente, seu regresso à legenda que consagrou Dilma Rousseff Presidenta do Brasil. Tudo isso depois de se abrigar, comodamente, no Partido Verde (PV) por algum tempo. O “traíra” (como Cartaxo ficou conhecido depois do golpe do Centrão no dia 31 de agosto de 2016) foi aceito de volta às hostes do PT depois de uma votação no âmbito do Diretório Nacional do partido onde obteve 48 votos pró 14 contra.

Segundo turno

Nas eleições municipais de 2020, eu estava morando em Maceió (AL) e comecei a ligar para as pessoas que me consideravam em João Pessoa para que votassem em Cícero Lucena (Progressistas). Naquele momento minha ideologia dizia: “Cícero será nossa vacina contra o bolsonarismo, contra o neofascismo, contra tudo aquilo que Nilvan estava a fim de representar naquele momento”. Eu estava certo e Cícero ganhou.

No primeiro turno das eleições municipais de 2020, Cícero Lucena  obteve 75.610 votos (20,72%) e Nilvan Ferreira (MDB) – 60.615 votos (16,61%), Ruy Carneiro (PSDB) – 59.730 votos (16,37%), Wallber Virgolino (Patriota) – 50.801 votos (13,92%), Edilma Freire (PV) – 47.157 votos (12,93%) e Ricardo Coutinho (PSB). Anísio Maia (PT) obteve dignos 5.431 votos (1,49%).

Esses números podem ser lidos de várias formas. Uma delas é a seguinte: o candidato do PT, Anísio Maia (em quem eu votaria, se votasse aqui naquele ano) não teve chance porque Luciano apostou as fichas da gestão em Edilma, sua secretária (medíocre e técnica) de Educação à época. Walber. Nilvan e Ruy eram representantes do mesmíssimo campo “ideológico”: A famosa Direita Conservadora, leia-se TFP.

Mas a eleição d’agora é outra história. Os golpistas do PT foram referendados pela Nacional e… perderam! Ricardo e Luciano comprovaram suas incompetências e que o oportunismo fisiológico não deve ser confundido com “ideologia”. Tentaram enganar novamente e se deram mal, internamente e externamente. Essa dupla caminha, a passos largos, para o descredito e ostracismo. Desmantelaram a Esquerda da Capital em busca de resgatar seus projetos pessoais, familiares. Do mesmo jeito que a Direita sempre fez. Eles são os novos donos da ideologia do oportunismo.

Ayuntamiento

Os espanhóis chamam, acertadamente, a prefeitura de “ayuntamiento”. Porque é ali que se ajuntam os interesses da comuna. Aonde estão reunidas as secretarias municipais, como se o prefeito fosse apenas uma espécie de secretário-geral. A missão seria gerir os impostos arrecadados dos cidadãos comunistas, daqueles que contribuem toda vez que compram algum produto ou que pagam IPTU ou imposto de coleta do lixo ou o imposto daqueles que prestam serviços. Juntar interesses não é uma tarefa fácil.

Na prática, ideologia é o que menos vale. Porque a Esquerda e a Direita podem governar do mesmo jeito. Aqueles que dizem que representam esses “campos ideológicos”, para se eleger, usam apenas um tipo de ideologia: a do oportunismo.

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* DALMO OLIVEIRA é jornalista, com mais de 30 anos de atividade. Foi candidato a vereador e a deputado estadual pelo PT e a deputado federal pela REDE SUSTENTABILIDADE. É fundador do Fórum Paraibano de Promoção da Igualdade Racial (FOPPIR).

Atualizado em 11/10, às 16h58

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