Em 1992 quando eu fui trabalhar no jornal O Norte, Carlos Antônio Aranha de Macedo já era um jornalista consagrado. Mais que isso: era uma espécie de guru de muita gente da cultura local. As nossas Redações eram vizinhas e eu sempre encontrava o cara na “hora do recreio” na barraca-lanchonete de Chico.
Eu vivia um momento bem underground naquela época. Esquerdista rebelde, anarquista irado, sindicalista revoltado querendo destruir o capitalismo. Kkkkkk!! Os coleguinhas mais “caretas” me chamavam de “porra-louca” e eu era quase isso mesmo, com muito orgulho, irreverência, provocando alguns danos colaterais (em mim mesmo principalmente, diga-se de passagem).
Carlos entendia minha “performance”. Ele sacava muito bem todas as vertentes da juventude transviada daquele momento em Jampa. Mas tinha uma influência inequívoca também nas rodas mais sofisticadas, na “elite” da cultura paraibana. Além dos eventos públicos, no SESC da Lagoa, ou no Centro Histórico, Aranha circulava facilmente e habitualmente nas mesas do Gambrinus, no Baixo Tambaú, um drink-bar chiquérrimo do lusitano Antônio Moita, ou no happy-hour do Cassino da Lagoa, ou na Churrascaria Bambu. e noutros bares e restaurantes requintados da Orla Norte da capital, como o La Veritá e o antológico Elite.
Quando ele lançou a música “Sociedade dos Poetas Putos”, disputando o festival do SESC, em 1990 (ou 1989, não lembro direito), ocorreu um tremendo reboliço na cena local. Música difícil, letra complexa, aquelas coisas feitas mesmo para os festivais das antigas, mas muito rock’n’roll também. Algo entre um protesto e um soco no estômago.
Logo depois eu trabalharia com Walter Galvão, que atuou alguns anos como chefe de reportagem, pauteiro e editor do matutino dos Diários Associados, ali na avenida Pedro II. O aracnídeo, como alguns colegas chamavam Carlos Aranha, havia ficado meio preso no tempo e na estética dos anos 60’s e 70’s. Vez por outra escrevia sobre Beatles, Stones, Cat Stevens, Janis Joplin e por aí vai.
Houve um período em que eu fui trabalhar na Bahia (uns nove anos, entre 1995 e 2003) e, quando o correio-eletrônico passou a ficar mais popular e confiável, eu comecei a mandar textos opinativos pro Aranha e o maluco, gentilmente, publicava no Caderno C do Correio. O artigo que eu mais gosto e que ele também curtiu foi aquele sobre avatares que assumem o papel de disc jockey (DJ), ou incorporam os mestres de cerimônia (MC).
Wikipédia diz que o primeiro é, basicamente, um discotecário, um artista que seleciona e reproduz as mais diferentes composições, previamente gravadas ou produzidas na hora para um determinado público-alvo, trabalhando seu conteúdo e diversificando seu trabalho em radiodifusão em frequência modulada (FM), pistas de dança de bailes, clubes, boates e danceterias.
Já o MC é o speaker e o responsável por conduzir o cerimonial e manter o movimento do evento. É a pessoa responsável pela locução e condução do cerimonial. Ele atua como um anfitrião, pois dá as boas-vindas, conduz a cerimônia e anuncia o que vai acontecer e o que deve ser feito durante a cerimônia.
E eu brincava com Aranha, dizendo que Paul McCartney era o “DJ dos Beatles” e Lennon seria o MC. Se fôssemos usar a mitologia iorubá como exemplo, diríamos que o MC é Exu e o DJ, Ogum. Evidentemente, o RAP e o Hip-Hop estavam sendo globalizados e a indústria fonográfica teria que se render aos caras.
Engraçado que, anos depois, eu já de volta à Paraíba, comecei a escrever uma coluna em A União chamada “Elejó”. Numa edição de domingo de 2019 minha coluna saiu junta com “Essas Coisas” de Carlos Aranha. Ele falava sobre “A longa carreira de Charles Aznavour” e eu sobre algodão colorido e agricultura familiar. Aranha foi um dos poucos que conheci que atuava nas duas posições, mesmo sem ser um locutor carismático.
Eu não tenho background para contar das histórias sobre a influência de Carlos Aranha no Movimento Tropicalista, suas incursões no teatro e cinema e outras peripécias desse mestre. Muito menos sobre seu fascínio por OVNI’s e vida fora da Terra. Só sei que vai ser difícil termos outro aracnídeo como esse!!
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* Dalmo Oliveira é jornalista, radialista e apaixonado pela Cultura Pop.