Eu nem me lembro mais muito bem da primeira vez que vi o Kennedy Costa tocando ao vivo. Mas 20 anos passaram ligeiro demais e nessas duas décadas, minha admiração por sua obra, sua sonoridade e sua visão de mundo só fez aumentar.
A partir de 2010, quando eu passei a frequentar mais o Bar do Baiano, no antigo mercadinho público do conjunto dos Bancários, para confraternizações com amigos ainda mais antigos, como Mana Lia, Bebé de Natércio, Cristiano Oliveira e Meire Lima, Kennedy já era habitué do local e há alguns anos ele se apresentava lá toda semana.
No ano passado, quando eu já havia me tornado morador bancariano de carteirinha e IPTU, participamos juntos da iniciativa do Coletivo Anumará, que durou apenas alguns meses numa sala do Shopping Sul, estreitando laços também com Ivaldo Gomes e Ana Maria, Lu Maia, Quelyno Souza, Carla Freire, Lau Siqueira, Ulisses Barbosa, Piedade e outras e outros, Kennedy que estava na coordenação do grupo promoveu o projeto “Quintas Musicais”, na Praça de Alimentação, trazendo muita gente boa para animar mais ainda a vida cultural já agitada do Bancários. E, claro, eu estava sempre ali, no gargarejo!
Cantando seu lugar
No último dia 26 de setembro, Kennedy reuniu sua banda (Alex Madureira, guitarra; Igor Ayres, baixo; Pablo Ramires, bateria e Geno Costa, vocais e percussão) para celebrar 20 anos do lançamento de seu primeiro CD solo Vem ver a tribo dançar, lançado no verão de 2004. O primeiro trabalho do artista (álbum com arranjos e direção musical de Alex Madureira) é uma espécie de manifesto em que ele faz questão de cantar as coisa do seu lugar. A new ciranda Jampa, carro-chefe do álbum, fala do Ponto de Cem Réis, das ruas quentes da velha Philipéia,
Autor do hino do Bloco carnavalesco Cafuçu, Kennedy vem ao longo das últimas décadas traduzindo nuances do ser pessoense. A agremiação, fundada por Adelise Costa, a mãe do cantor, é, como ele mesmo diz, “a cara da massa”. Na faixa-título Vem ver a tribo dançar, o compositor assinala: “(…) mameluco maluco, cafuzo confuso fazendo marmota, quem é que se importa se baterem a porta pro povo passar (…)”.
Um dos principais nomes da nova música paraibana, bebedor das fontes do Jaguaribe Carnes, frequentador dos bairros antigos da cidade como Jaguaribe, Torre, Tambiá, Róger e Varadouro, Kennedy aponta sua bússola de criação para as terras que estão do outro lado do Atlântico: a África.
Em 2021 ele lança o EP Cidade do Cabo Branco, mais eletrônico e com a mesma pegada dançante característica. A faixa-título, “Um rei em outras terras” e “Também sou preto” (que canta com Totonho) confirmam a força das composições de Kennedy dedicadas a uma espécie de cartografia do habitus da gente de João Pessoa.
No próximo dia 25, Kennedy Costa e Banda repetem a dose do show comemorativo no Café da Usina, na Torre, a partir das 21 horas. Quem quiser matar saudades e curtir a vibe da galera, cuide porque o espaço tem poucos lugares e lota fácil.
Veja um dos momentos que gravei do show no Bar do Baiano