
A nova missão de Alexandre Padilha à frente do Ministério da Saúde não será uma tarefa das mais fáceis. Mesmo já tendo sido titular do MS em governos petistas anteriores e, portanto, sendo conhecedor a fundo da “máquina”, o ex-Ministro de Relações Institucionais precisará se reinventar na função responsável, simplesmente, pelo terceiro maior orçamento da República.
Padilha já havia comandado o Ministério da Saúde, durante a gestão Dilma Rousseff (2011 – 2014), quando idealizou o Programa Mais Médicos e ampliou o Farmácia Popular, capilarizando, pelos municípios, a entrega gratuita de medicamentos de alta demanda pela população mais carente.
Nísia Trindade, que deixa a Pasta depois de encarar uma gestão desmontada pelo governo Bolsonaro, cumpriu um papel fundamental nos primeiros anos do Lula III. Mas antes de avaliarmos seu desempenho faz-se necessário ressaltar o seguinte: não importa o que o Centrão pensa ou deixa de pensar sobre Saúde Pública! Aliás, importa, sim, pra uma parcela minúscula da sociedade brasileira, representada pela indústria e pelas empresas de prestação de serviços de Saúde, corporações farmacêuticas e de parte do segmento médico que sequer lembra do juramento de Hipócrates.
Trindade precisou sanitarizar diversos setores do Ministério da Saúde e, talvez por isso mesmo, sua “fritura” no Congresso Nacional começou logo cedo. Ela pagou ainda pelos descalabros da gestão anterior, como no caso das vacinas para Dengue, recebidas já com prazos de validade quase expirando. Ou nos desmandos que se arrastavam nos hospitais federais do Rio de Janeiro.
Mas ela não arrefeceu e lutou de pé nos combates que pode peitar nesse período. Primeira mulher nesse Ministério, mesmo tendo Padilha na retaguarda, não deve ter sido fácil enfrentar as armadilhas do machismo estrutural.
+ especialistas
Alexandre Padilha, por seu turno, recebe a Pasta com pautas-bombas pré-determinadas. As narrativas do momento dão conta de que ele vai precisar deslanchar os serviços de Saúde que ofereçam atendimento especializado aos usuários do SUS. Diminuir essa fila não é tarefa das mais simples. Sem se dar ao luxo de menosprezar a famosa Atenção Primária.
O Sistema Único de Saúde (SUS) do Brasil oferece uma ampla gama de serviços médicos para atender às necessidades da população. Entre os principais médicos especialistas que devem ser contratados para garantir um atendimento abrangente e de qualidade estão os clínicos gerais, que são os médicos de primeira linha que realizam diagnósticos iniciais e encaminham pacientes para especialistas quando necessário.
A oferta de pediatras continua sendo um desafio para os gestores públicos. Esses especialistas atuam no atendimento de crianças e adolescentes, garantindo o desenvolvimento saudável desde o nascimento até a adolescência.
Para a população feminina, que é maioria também do eleitorado, a oferta de ginecologistas e obstetras precisa ser ampliada, para melhorar os cuidados dos pré-natais, partos e saúde reprodutiva de um modo geral.
A fila por cardiologistas não para de crescer com o aumento progressivo das doenças do coração e do sistema circulatório, essenciais para o tratamento de condições como hipertensão e outras doenças cardíacas.
Os ortopedistas possuem uma sobrecarga de demanda inimaginável, principalmente em decorrência do aumento dos acidentes no trânsito que provocam traumas relacionados aos ossos, músculos e articulações, incluindo fraturas, além das lesões esportivas.
É insuficiente também a oferta no SUS de neurologistas, especialistas em doenças do sistema nervoso, como epilepsia, esclerose múltipla e doenças neurodegenerativas. Esse profissional passou a ser fortemente demandado nos últimos anos por causa das sequelas causadas pela Zika e pela Covid-19, pelo boom de crianças nascendo com diferentes graus de autismo e de outras doenças neurocognitivas, especialmente o Alzheimer.
Nessa mesma linha, aumentou a demanda por psiquiatras, médicos focados na saúde mental, tratando condições como depressão, ansiedade e transtornos de humor. Os oftalmologistas também estão em falta no SUS, além de dermatologistas, que tratam de câncer de pele e doenças autoimunes.
Deve-se destacar, por fim, o crescimento pela busca de consultas com endocrinologistas, responsáveis pelo tratamento de distúrbios hormonais, como diabetes, problemas de tireoide e outras condições metabólicas.
E ainda há uma carência na Rede Pública de médicos hematologistas, os especialistas em doenças do sangue e dos órgãos que produzem sangue, como a medula óssea, os linfonodos e o baço São profissionais que cuidam das anemias, incluindo a anemia falciforme e anemia perniciosa. Esses especialistas lidam ainda com leucemias, linfonodopatias, distúrbios de coagulação (trombofilia), mieloma múltiplo, trombocitopenia, talassemia e a síndrome mielodisplásica. Os hematologistas desempenham um papel crucial no diagnóstico, tratamento e manejo dessas doenças, utilizando uma combinação de exames de sangue, exames de imagem, biópsias e outros procedimentos para fornecer o melhor cuidado possível aos pacientes.
Controle social
No final de 2013 eu estava atuando fortemente no Controle Social no nível federal e passei a frequentar, em Brasília, reuniões mensais de Comissões estabelecidas dentro do Conselho Nacional de Saúde e do Conselho Nacional de Promoção da Igualdade Racial (CONAPIR). Nesse último nós tínhamos uma interação muito companheira com a ministra da época, Luíza Helena Bairros.
Foi num desses momentos que Bairros obteve uma agenda com o colega ministro da Saúde, Alexandre Padilha. Por mais de uma hora ele recebeu parte dos membros da Comissão de Saúde da População Negra do CONAPIR, numa conversa intermediada por Luíza. Naquela oportunidade eu puder explicar um pouco para Padilha os gargalos no SUS para a atenção integral à saúde da pessoa com a doença falciforme no país. Ele se mostrou atento e sensível às nossas demandas. Esperamos que agora, o Dr. Alexandre Padilha volte a abrir sua agenda para os movimentos sociais que atuam na Saúde Pública coletiva.
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*Jornalista, idealizador do Fórum Paraibano de Promoção da Igualdade Racial (FOPPIR)