CONHECIMENTOOPINIÃO

O Jornalismo segundo Luiz Custódio

por DALMO OLIVEIRA*

Custódio: competência e sensibilidade

A entrevista é, antes de tudo, uma possibilidade de dialogo. Eu aprendi essa lição logo nos primeiros anos de minha graduação em Jornalismo, na UFPB. Nos meados dos anos 80`s nas aulas de Técnica da Reportagem, ministradas por Luiz Custódio, um dos poucos mestres negros que tive a honra de ser discípulo naquela época. Foi ele quem nos trouxe Cremilda Medina e sua maneira de analisar o cotidiano pelas narrativas jornalísticas.

Em 2003, quando eu regressei à Paraíba, reencontrei Custódio, que já havia migrado de Cátedra, atuando agora na UEPB. Nos anos seguintes fomos nos reaproximando e ele me chamava frequentemente para alguma atividade acadêmica. Eu já atuava na Embrapa há quase uma década e Custódio sabia do meu envolvimento com a Comunicação Rural. Logo em seguida eu fui pra Recife e conheci o pessoal da Rural: Salete Tauk, Angelo Braz Callou e outros. Mas acabei indo estudar na pós-graduação da UFPE, orientado pela querida Professora Isaltina Gomes.

Quando eu voltei do Mestrado, passei a colaborar com a iniciativa criada por Custódio: o Seminário Os Festejos Juninos no Contexto da Folkcomunicação, que ele realizava, magistralmente, com o apoio executivo do meu amigo e também Professor de Comunicação da UEPB, Roberto Faustino. Em uma das edições nós até levamos uma das atividades para o auditório da Embrapa.

Custódio discutia bem a interface entre Comunicação e Extensão Rural. Ele colaborou intensamente com pesquisas realizadas no âmbito das Emater’s e das empresas públicas de pesquisa agropecuária, no âmbito federal e nos Estados também. Mas eu só pude perceber esse viés da atuação profissional dele em 1994, quando prestei meu primeiro concurso público para a Embrapa.

Foi um episódio meio hilário e constrangedor. Custódio era um dos componentes da Banca que avaliaria as provas desse certame. Eu, por outro lado, fui disputar a vaga sem nem saber ao certo o que danado era “Embrapa”. Fiz a prova em Petrolina (PE) para uma vaga de Técnico de Nível Superior do Centro de Pesquisa Agropecuária do Trópico Semiárido (CPATSA). Na hora de avaliar a prova de títulos surgiu uma dúvida entre os membros da Banca sobre alguns itens que eu havia locado no meu currículo. Teve gente até que queria anular algumas dessas minhas experiências profissionais, como por exemplo a de assessor de comunicação do Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Estado da Paraíba (SINTEP). Foi quando Custódio interviu e assegurou aos demais membros que tudo que eu havia colocado correspondia com a mais pura realidade e a Banca acatou minhas informações. Foi assim que eu passei a dever ao Professor Luiz Custódio meu ingresso no Serviço Público Federal. E só fui descobrir essa história muitos anos depois, contada por ele mesmo.

Com um sorriso cativante, Custódio sempre foi um gentleman. Atencioso, perspicaz, irônico, às vezes. Ele nos deixa um legado no campo comunicacional que ainda está por ser reconhecido. Um cara que sempre somou muito na formação de todas e todos que tiveram o privilégio de sua orientação pedagógica, no fazer jornalístico, na comunicação popular e no reconhecimento do folclore nordestino como forte impulsionador da cultura brasileira. Podem até surgir professores parecidos com ele, mas nenhum terá sua sensibilidade como ser humano.

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*DALMO OLIVEIRA é jornalista, mestre de Comunicação e ex-aluno do Professor Luiz Custódio na UFPB.

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