A depredação generalizada que adeptos do bolsonarismo ultradireitista perpetraram domingo passado em Brasília é apenas a ponta do iceberg de um problema social que o Brasil desconhecia e que terá que lidar nos próximos anos.
Não se trata apenas de farra destrutiva de grupos descontentes com os resultados da última eleição. A promoção e o financiamento dos extremistas já estão evidenciados. As cenas registradas nas sedes do Palácio do Planalto, no STF e no Congresso Nacional lembram a ação de uma gangue de delinquentes dramatizada no distópico filme Laranja Mecânica (A Clockwork Orange), de 1971, com direção de Stanley Kubrick.
Mas, além da violência gratuita e despropositada, o que assusta mesmo é a ira dos criminosos contra o patrimônio cultural brasileiro, contra as obras de artes abrigadas nesses “palácios”. O desprezo dos “manifestantes” para com a arte, a cultura, o belo.
O quebra-quebra lembrou a atitude da juventude maoista na revanche cultural no início da Revolução chinesa. O ataque em Brasília nos remete, desgraçadamente, a algo parecido promovido pelo Estado Islâmico nas cidades iraquianas de Nirund, Mossul e Hatra, em 2015.
A pilhagem que ocorreu, sob a justificativa de “protesto”, foi a pura e genuína manifestação da barbárie individualizada e coletiva de manifestantes extremistas, patrocinados por setores que não se conformam com o exercício da democracia.
A turba foi formada por cidadãos deslocados da realidade, pessoas motivadas apenas pelo ódio e pela vingança a qualquer custo. Gente aculturada, ignóbil, que despreza não apenas a democracia, mas as artes, as manifestações da cultura e as expressões mais autênticas de alguns gênios artísticos brasileiros e de tantos outros cantos do mundo.
A famosa “guerra híbrida”, tão propalada pelos analistas de plantão aqui no Brasil se resume a isso: vandalismo, manipulação coletiva, negação da cultura (e das ciências), difusão de mentiras e falsidades, destruição dos valores da República e tentativa de apagamento da História Nacional, simples assim.
Não se trata apenas de uma espécie de disfunção cognitiva generalizada. É maledicência, ignorância de berço, estupidez dos incautos, arrogância de setores que detestam educação, civilidade, respeito mútuo e relutam frustradamente contra o avanço civilizatório inexorável.