OPINIÃO

Um canalha entre nós

por DALMO OLIVEIRA

O canalha não surge da noite para o dia. A canalhice é gestada pacientemente nas atitudes daquele ou daquela que é aceito no seio dos grupos de homens e mulheres do bem. É um vampiro, sórdido, que suga a energia dos que lhes dá confiança.

Às vezes você passa anos para perceber que o cara é um canalha, um pulha, um escroto. O canalha se revela quando o cerco da dignidade começa a enforcar seus atos, sua sensatez. Ele vive de pequenos favores. Vive na espreita. Das sobras de oportunidades que lhes dão, inadvertidamente.

Ele se cerca de gente boa, para ser confundido com ela. Finge concordar, finge “fazer o bem”. O canalha finge! Até que seus interesses mais mesquinhos sejam contrariados. Aí ele vira fera. O pior dos trapaceiros. O canalha, até que você, perceba, está do teu lado, se fingindo de amigo, de conselheiro.

O canalha é uma espécie de “doente mental”, que não consegue refletir sobre o mal que tenha causado a outra pessoa. Ele ataca deliberadamente a imagem das pessoas, acusando-as de atos que elas não cometeram, com um cinismo abominável de quem sabe exatamente o que está fazendo. Mente descaradamente.

Se for pesquisar apenas a etimologia da palavra, trata-se de uma pessoa sem moral, desonesta. O canalha é um patife, infame e velhaco. Que se pode nominar ao que é vil, sem valor. Todo canalha é um ordinário. Uma pessoa mau-caráter e desprezível, que adora chamar os outros de… “mau-caráter”. Psicologicamente, o canalha acha que todos são iguais a ele, por isso difama, calunia e desonra praticamente todos com quem se relaciona, seja afetivamente, seja na vida social, no trabalho e nos ambientes que frequenta.

Sabendo captar as crenças e o ponto de satisfação do outro, espalha promessas que jamais cumprirá, faz ameaças e é um mestre em criar expectativas explícitas ou implícitas, com essas artimanhas, vai obtendo consentimentos e cumplicidade dos outros.

A pessoa canalha é, antes de tudo, manipuladora. Sabe exatamente o que dizer, como agir e quando sumir. Como um ator experiente, o canalha tenta ser a pessoa que você procurava. Ele observa o que você deseja e vai replicando seus jogos emocionais e armadilhas.

O canalha é uma personagem tão forte no nosso imaginário que até o escritor e dramaturgo Nelson Rodrigues criou a figura do “canalha honesto”. Um cara que é sincero na sua canalhice e não joga a culpa de suas sacanagens em outrem, a não ser nas próprias vítimas de seus ataques. Chico Anysio também escreveu sobre o tema.

O psicanalista francês Jacques-Marie Émile Lacan também se debruçou na dissecação da “figura ética” do canalha. É bom lembrar que o termo deriva do latim canalia, que é traduzido para o bom português como “bando de cães”. A conclusão lacaniana, na essência, é de que o canalha é, acima de tudo, um imbecil.

O fato é que o canalha é a pior espécie de gente!

Mostrar mais

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Verifique também
Fechar
Botão Voltar ao topo